1.5.11

JOSEFINA, A DOS RATOS

Em 1990 montei Josefina, a cantora dos ratos para a CIT - Companhia de Investigação Teatral - formada por Clecia Queiroz, Yulo César, George Mascarenhas e Nadja Turenko, depois substituida por Tereza Araújo. Era um grupo formado por atores/produtores que convidavam diretores para desenvolver projetos com eles.
A peça foi baseada no conto Josefina, a cantora ou o povo dos ratos, escrito por Kafka em 1924 (que recomendo seja lido sempre).
Em 1997 revi o artigo que escrevi para o programa da peça e ele foi publicado no jornal Soterópolis.
Quando montei Josefina, meus filhos tinham 5 e 6 anos. Quando revi o artigo, eram adolescentes. hoje são jovens adultos.
Aí está o artigo.
George Mascarenhas - 
- um das "Josefinas"

ACHO QUE ESTE NÃO É UM TEMPO
DE METÁFORAS
Acho que este não é um tempo de metáforas. É um tempo real em que é necessário falar, tomar posições. É um tempo em que o artista é necessário mais do que nunca. Em que o artista tem que assumir a sua condição de arauto, de instigador, de antena parabólica, captando e colocando no ar o dia a dia que é mais fantástico e dramático do que a mais fantasiosa imaginação possa criar.
É preciso colocar esse personagem em cena - o artista - e discutir sua fragilidade e sua grandeza, suas possibilidades e seus delírios, suas carências e pirraças, seu poder de sedução e a real necessidade que tem dele uma sociedade em crise. Mas é preciso que se faça isso com uma visão crítica, não com excesso de vaidade e amor próprio inflamado. Talvez com muitas dúvidas a nosso próprio respeito.
Acho que neste momento a palavra se faz necessária, a discussão, a descoberta de novos caminhos para a felicidade geral.
Este é um tempo sem ideologias, sem causas, um tempo em que o poder supremo de duplicar a vida foi conquistado. Em que a gente perde o interesse em acompanhar as notícias sobre crimes monstruosos contra o cidadão porque já se sabe o fim da história. Um tempo em que os clones e a impunidade ocupam lado a lado as notícias dos jornais.
É um momento muito difícil, um momento terrível. Todas as antigas crenças e certezas estão desmoronando. E as novas não respondem às imensas questões que me colocam meus filhos pelo simples fato de existirem, crescerem, serem humanos e terem um futuro absolutamente imprevisível pela frente.
Eu tenho tantas dúvidas e tantas questões quanto meus filhos adolescentes.
A única coisa que penso no momento é: algo tem de ser feito. Temos que abrir caminhos novos. E temos muito pouco tempo.
     Venho construindo, com todas essas questões e desafios, um caminho para mim, não uma resposta. Não precisamos de respostas, precisamos de uma saída. A saída para mim é o teatro, esse jeito coletivo de se construir coisas novas e refazer velhos sonhos, essa forma única de estar em convívio com outros homens, de gerar e resolver crises, de dizer coisas antigas de uma maneira única e viva e efêmera. Essa única forma e ato de amor.
15-03-97

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