Creio que a Universidade Federal do Recôncavo cumpre, no momento, para a cultura baiana, o mesmo papel que a UFBA nos 1950s/60s, com a implantação de seus cursos de arte. Ferve algo em Cachoeira/São Felix de muito positivo. e que dará resultados em breve.
Fui convidado para falar para os alunos de Artes Visuais e Audiovisual sobre a minha busca no campo do diálogo entre teatro e novas tecnologias. O papo vai ser dia 25/05, quarta feira próxima, entre 14 e 15h, na Sala 13 do CAHL-UFRB, Rua Maestro Irineu Sacramento, S/N, Centro, Cachoeira - BA.
o papo vai ser em torno do que se segue:
BENÇA, espetáculo do Bando de Teatro Olodum foto João Milet Meirelles |
O teatro só é possível se for necessário. Essa é a grande questão que o mundo contemporâneo faz a nós: Que teatro é necessário?
Temos uma sociedade cada vez mais fragmentada e setorizada, territorialmente – no sentido mais amplo que território possa ter – e setorialmente. Então teremos um teatro fragmentado, territorializado, setorizado, dirigido a pequenos públicos que estejam naquele território, pertençam àquele setor ou grupo ou falem aquele idioma ou dialeto...
O teatro de Shakespeare, por exemplo, congregava num mesmo espaço as elites, os comerciantes, o povo... Ou seja, toda a sociedade estava ali e as peças tinham que se dirigir a toda ela. Hoje, nem o teatro de rua consegue esse feito. As elites não estão nas ruas. Talvez a televisão consiga isso territorialmente... Mas, mesmo a televisão e o audiovisual estão se setorizando, vamos dizer assim, e sendo realizados, cada vez mais por todos para alguns. É o caso do Youtube, dos blogs e de todas as redes sociais: você produz seu discurso e o disponibiliza para todo mundo ou para sua comunidade. E aí vem uma outra questão contemporânea, a reprodutibilidade dos discursos e seu alcance, a capacidade de se reproduzir, dialogar em diversas mídias e alcançar qualquer um, em qualquer lugar.
O mundo do teatro depende da presença física de assembléia e orador e do tempo real. Todos estão aqui-e-agora juntos para, através do compartilhamento de emoções, discutir questões da comunidade.
Talvez tenhamos que repensar então a natureza do teatro, considerar a presença virtual como um fato do século XXI e assumir o tempo real da internet. Muitas experiências já estão sendo feitas no mundo. Talvez este seja um caminho.
APRESENTAÇÃO
Há 20 anos dirijo o Bando de Teatro Olodum, e sou responsável pela maioria de suas criações. Nelas perseguimos a construção de novas narrativas. A montagem de textos clássicos, como Sonho de uma noite de verão ou Ópera de três vinténs ou Woyzeck, são também exercícios e pesquisa para a criação de nossas narrativas.
Há algum tempo temos trabalhado na construção de uma dramaturgia que dialogue com as novas mídias e suportes e que trabalhe com a dramaturgia das redes sociais. Venho investigando a tempos os roteiros e discursos fragmentados que surgem das discussões nas redes. Vejo aí um rico material dramatúrgico, mas que depende de atores aptos a dialogar no palco com as novas tecnologias.
O trabalho comemorativo dos 20 anos do grupo chama-se BENÇA. É um tributo à tradição, ao poder do tempo e aos mais velhos. Mas é um espetáculo/instalação que usa a tecnologia como parceira dos atores em cena. Começamos a experimentar ações na internet. A princípio apenas colocamos fragmentos de ensaios, fotos e informações no Youtube, em sites, nas redes sociais e no blog do grupo. Geramos algumas discussões sobre os temas e inserimos formas narrativas dos fragmentos dessas discussões na peça.
O projeto que estamos desenvolvendo agora: trilogiaRemix.DOC_aquartapeça, começa a ser construída, de forma colaborativa. Além dos artistas que fazem parte do grupo, outros têm participado do processo: fotógrafos, roteiristas, músicos, cineastas. Também temos tido a presença ativa de moradores do Centro Histórico de Salvador, território urbano, sobre o qual se fala na peça. Os ensaios estão sendo acompanhados online via twitter, com interação e diálogo com internautas. Assim, mobilizamos uma comunidade interessada em debater questões raciais, de gênero, de exclusão, de violência, a partir do teatro.
Estamos implantando um laboratório de pesquisa de tecnologia e narrativas e vamos apresentar um relato dos processos e métodos de trabalho implementados para alcançar os resultados esperados: o envolvimento das comunidades interessadas em nosso discurso e a difusão virtual dele para quem não pode companhá-lo presencialmente; e a redescoberta da necessidade do teatro simultaneamente como arena de debates e de divertimento.
Muito interessante, eu já venho pesquisando esse assunto uns 4 anos atrás, e escrevi um epetaculo de teatro que funde essas duas linguagens, o tema das minhas oficinas é justamente esse, venho observando que essa relação entre o teatro e a tcnologia vem crescendo cada vez mais, acho isso muito bom afinal estamos em pleno século 21 e temos que nos permitir experimentar outras coisas e evoluir passo a passo.O teatro e atecnologia juntos eu acredito nisso! Parabéns Marcio Meireles por abordar esse assunto!
ResponderExcluirBem interessante pensar novas tecnologias e ancestralidade, Marcio.Acabo de defender minha dissertação sobre a relação do ator coma câmera na cena contemporânea, onde o eixo da discussão é: presença,tele/presença e co/presença como uma nova perspectiva sensorial para o espectador..gostei de saber dessa investida do bando de teatro oludum...parabéns.
ResponderExcluirLegal meu amigo, Parabéns!
ResponderExcluirDivulgamos no: http://www.enfoquecultural.blogspot.com/
abçs e mais sucesso pra vc,
Alysson Andrade
Jequié-BA
Salve, Márcio!
ResponderExcluirmuito legal o texto.
aguardamos você aqui quarta-feira!
vale lembrar que uma iniciativa muito boa na própria UFBA tbm para esse tipo de experimentação é o IHAC - Instituto de Humanidades, Artes & Ciências Professor Milton Santos que abriga os cursos interdisciplinares e que a meu ver representa uma renovação da instituição e abertura para essas discussões e práticas.
Acho que ações conjuntas CAHL-UFRB e IHAC-UFBA darão um caldo bom.
Grande abraço.
jjR
Olá Márcio,
ResponderExcluirHá que tempos... como estás?
Um abraço de Portugal. Gostei do texto e de saber de ti.
Carlos Pimenta
www.sitedoblog.blogspot.com
Um grande avanço nas artes cênicas que poderá servir de exemplo para outros segmentos da sociedade. Acompanhar as mudanças não significa que algo deixará de existir, apenas passamos a fazer as coisas de uma forma diferente. Gostaria muito de acompanhar o trabalho de vocês no laboratório de pesquisa de tecnologia e narrativas. Quando acontecem os ensaios?
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